16 março 2012

Da inutilidade

Não gosto de arrumadores.  Ah e tal, grande coisa, ninguém gosta. Claro que ninguém gosta, eles não têm razão de existir. Mais valia simplesmente assumirem-se como pedintes, em vez de 'arrumadores'. Assim de repente, até parece que é uma profissão a sério. 'Então, o que fazes? Ah, sou arrumador. Eh pah, boa cena, é um bom trabalho'. Arrumador quase que lhes dá alguma honra. Coisa que eles não têm. Para além disso, há outra questão sobre a qual eu me gostaria de debruçar, porque é uma coisa que me vem à cabeça sempre que passo por algum: será que eles acham mesmo que nós não conseguiríamos estacionar sem eles? Será que eles acham que são mesmo úteis? Acho que, na cabeça deles, antes deles existirem, não se estacionavam os carros. As pessoas andavam sempre de um lado para o outro, faziam turnos até, para nunca parar os carros, porque depois era preciso e estacionar e... ui ui, sem eles, isso era uma tarefa hercúlea. Odeio-os, como toda a gente. No início, quando o meu carro ainda era novo, dava apenas uma moeda de 50 cents (odeio dizer cêntimos, cents é muito mais prático e económico) à noite, porque não queria que me estragassem o carro. Hoje em dia, porque algum cabrão já mo riscou, já não quero saber e não dou nunca. Ai queres riscar? Risca, coleguinha, é da maneira que depois vale mais a pena o dinheiro que eu pagar pela pintura total. Quem me dera que os recolhessem, que viesse uma carrinha tipo a do canil, que pegassem neles todos e os metessem em jaulas para sempre, para nunca mais nenhum condutor ter de dar dinheiro, que lhe custou a ganhar, por medo de represálias.

9 comentários:

Quel* disse...

Tens toda a razão, mas infelizmente (ou felizmente para eles) um arrumador de carros que esteja num bom sitio ganha bem mais que o ordenado mínimo. Há pessoas que se esfalfam a trabalhar 8 horas por dia, 5 ou 6 (quando não são 7) dias por semana e não ganham o que eles ganham. A solução? Era todos fazerem como tu, mas o medo de represálias fala sempre mais alto, infelizmente.

Niuza disse...

Embora compreenda a tua (espero poder tratar-te por tu) irritação, visto que sinto o mesmo... a solução passa por abrir o vidro e educadamente dizer "não preciso de ajuda, obrigada". A partir desse momento, a obrigatoriedade de dar alguma coisa deixa de existir, tal como o receio de riscos no carro.

Assim, estás a tratar os arrumadores como pessoas que são. É chocante para mim ver a frieza com que falas de pessoas, que não deves julgar porque não sabes a sua história! Umas serão com toda a certeza "não lutadoras" por natureza, e têm o que plantaram... outras se calhar não tiveram a mesma sorte que tu ou eu.

Anónimo disse...

Posso acrescentar: limpadores de vidros em semáforos, vendedores da Cais, tocadores de acordeão, vendedores ambulantes de bonecos que se abanam muito e fazem uns barulhos esquisitos,...

Anónimo disse...

não sei a sua história nem preciso de saber, não preciso da ajuda deles e nunca dei nada.

De repente passou a ser obrigatório dar uma moeda a uma pessoa inutil?

Claro que é chata a situação deles mas prefiro dar uma moeda a alguém que está a pedir no passeio que não usa nenhum tipo de chantagem se eu não lhe der nada.

Anónimo disse...

Eu antes andava a roubar velhas e supermercados, um dia pensei que poderia ter uma profissão honesta e munido de um pau fui arrumar carros para um parque de estacionamento que notoriamente necessitava de organização.

Sou uma pessoa honesta ao ponto de alguns automobilista me deixarem a chave de forma a poderem ficar em segunda fila.

A troco deste trabalho apenas peço uma moedinha e a única ilegalidade que cometo é não declarar o IRS.

Não sou uma pessoa vingativa mas quem não me der moeda pode correr sérios "riscos", andam tantos vândalos por aí.

Niuza disse...

Se essa resposta foi para o que eu escrevi, não terá lido o meu post com certeza com atenção;)

Maat disse...

é verdade que eu não sei a história deles, mas eles também não sabem se eu tenho dinheiro ou não, se posso dar uma moeda ou não. lá por ter carro, não quer dizer que seja rica. posso ter apenas um euro no bolso para ir comprar pão, eles sabem lá. e não é justo eles também não saberem a minha história e riscarem-me o carro, como já fizeram. a partir daí, peço desculpa, mas a minha compaixão esgotou-se. pagam todos por o que um ou dois fizeram, se calhar. mas também ninguém disse que a vida era justa.
vá, às vezes se estiver bem disposta, ofereço-lhes um cigarro.
e também pra não dizerem que eu sou muito cabra (não que me importe muito, mas pronto), ainda noutro dia, veio um ter comigo quando eu saía do estacionamento e eu disse que não imediatamente. mas olhei para a cara dele e era assim velhinho e com ar de pobre mesmo. não me parecia drogado, não sei se era ou não, mas fiquei mesmo com pena do senhor e dei-lhe um euro. por isso, às vezes (poucas) o gelo que tenho no coração também derrete.

Ana disse...

Conheço um arrumador muito útil. Está sempre na rua do bar que eu frequento ao fim-de-semana. É uma zona onde é bastante difícil arranjar estacionamento, as ruas são de sentido único e temos de dar voltas enormes para procurar um lugar. Ele é óptimo a ajudar. Mal entramos na rua indica-nos logo onde há um buraco livre, e se tivermos de estacionar em segunda fila ele toma conta dos carros todos e, caso seja preciso, manda-nos chamar no bar. Nunca nos falhou, já nos poupou muitas voltas e voltinhas e já nos livrou de várias multas. Aquele bar perdia muita clientela se não fosse aquele arrumador ali a organizar aquilo tudo, tal é a dificuldade de estacionamento.

Lily Braun disse...

Portanto, eu não tenho carro (nem carta), mas acho que sou a pessoa do mundo inteiro que mais contribui para os salários dos arrumadores.
Quando vou de boleia com alguém ou mesmo quando sou a convidada de honra num carro (num date, por exemplo), como forma de boa educação para com o condutor que está a gastar gasolina a levar-me a algum lado, eu adianto-me sempre e digo "Tenho moedas, não te preocupes". E é um euro aqui, 50 cents ali...acho que nos últimos 10 anos teria o suficiente para um carro só meu. Esta vida não é fácil, não.

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