20 junho 2012

Da avareza

Não gosto de pessoas avarentas. Eu não sou contra as pessoas pouparem. Sou toda a favor disso, aliás, acho muito bem, necessário até, as pessoas juntarem uns trocos para terem em caso de emergência (se tiverem cancro e o sistema de saúde público não permitir uma intervenção rápida, há que ter outra forma de fazer as coisas - drama queen, penso sempre nisto). Como a minha mãe diz 'dinheiro e respeito nunca são demais'. Mas o que me faz espécie são pessoas avarentas, pessoas mesquinhas. Pessoas que até para elas são más. Que não querem ir jantar fora porque vão gastar mais um pouco, que não vão de férias porque é muito caro, pesssoas que não vão a médicos particulares porque é um roubo e que passam meses e meses à espera de uma consulta no público (ok, nota-se aqui um padrão de aversão ao sistema público de saúde. Peço desculpa, mas não acredito muito nisso. Felizmente sempre tive sistemas de saúde particulares e as poucas vezes que recorri ao público não me deixaram boa impressão, por isso só quero ter dinheiro suficiente para não precisar de recorrer ao SNS, que se lixem as férias), pessoas que acabam por não gozar o dinheiro que têm só para juntarem, juntarem muito. Mas juntarem só para terem dinheiro, não para terem melhores condiçoes de vida. Ter dinheiro e não fazer uso dele é o mesmo que não ter, para mim. Se eu ganhar 5000€ mas só me permitir gastar 700€, porque o resto é para guardar, quase nem vale a pena ganhar tanto dinheiro. Não gosto de pessoas que vivem em condições... não diria miseráveis, mas bastante menos confortáveis do que o que poderiam, só para não gastar dinheiro. O dinheiro é para se gastar. Não todo, claro, que isso até foi uma das causas de estarmos na situação financeira em que estamos, com o sobre-endividamento das famílias, que não têm precisamente hábitos de poupança, precisando ainda de recorrer ao crédito. Nem 8, nem 80, é preciso algum bom senso. Na minha perspectiva, e em situações óptimas, onde há margem para isso claro, que infelizmente nem sempre é possível, será gastar o necessário para a subsistência, guardar algum dinheiro na conta poupança e poder gastar algum em pequenos 'luxos', como férias, cds, jantares, spas, roupa, livros raros de banda desenhada ou o que quer que cada um goste e o faça feliz. Isto tudo em teoria, que eu sei que a vida não é fácil. Cada vez menos.

11 comentários:

trollofthenorth disse...

Por natureza sou muito pouco avaro. No último ano o síndroma Troika atacou-me e dou por mim a poupar à bruta e a contar euros. A Troika muda mentalidades.

SNS sucks big time.

Espiral disse...

Acho isso um raciocinio típico de quem sempre teve muitas almofadas e muito chão debaixo dos pés e não sabe o que é não ter heranças, rendimentos extra, ou paizinhos com dinheiro.

E há uma diferença enorme entre ser mesquinho e os exemplos que dás. Eu percebo perfeitamente quem não quer ir jantar fora porque prefere poupar aquele dinheiro. É o dinheiro dela/dele, é uma opção.

Mesquinho tem mais a ver com o que se projecta pros outros; exemplificando (com um exemplo real): percebo perfeitamente quem não vai a um casamento porque não quer gastar o dinheiro que isso implica (um valor x de prenda + vestuario + o que tiver de ser); acho mesquinho quem vai a mesma mas não quer dar uma prenda/valor monetário equivalente (há valores mais ou menos padronizados) e dá uma miseria porque "ah não pode". Isto é mesquinho, é querer fazer as coisas sem ter dinheiro pra isso.



(além de muito mal informada acerca do sns e dos sistemas de seguros, mas isos são outros quinhentos)

stantans disse...

eu por exemplo, prefiro não ir jantar fora ou comprar roupa e poupar o dinheiro, porque tenho um trabalho precário onde a qualquer momento me podem pôr na rua sem direito a subsídio de desemprego, e depois não tenho ninguém que pague a minha renda e as minhas contas. neste momento não tenho luxos, mas tenho um pé de meia que me vai ajudar a sustentar-me 2 ou 3 meses sem emprego, caso o pior aconteça

Maat disse...

Espiral: é óbvio que eu não estou a dizer para se gastar dinheiro que não se tem ou que nos faz falta. isso seria parvo. se achas isso, é porque não leste bem ou não percebeste bem o post. eu afirmo que acho necessário poupar, primeiro que tudo poupar. como disse, o país está na situação que está porque as pessoas não têm háitos de poupança no geral. o que me irrita é quem tem dinheiro e gastá-lo, não o fazer, não porque não quer ou não gosta, mas por avareza, por querer guardar o dinheiro todo, não aproveitando assim o que tem ou o que ganha.
sim, tens razão quando dizes que nunca passei dificuldades, é verdade, felizmente, o que não quer dizer que não tenha cabeça na hora de gastar/poupar dinheiro, porque o que tenho também me custa a ganhar, trabalho como muitos outros para ter dinheiro. acordo todos os dias às 7h e chego a casa tarde e às vezes ainda levo trabalho.

posso não ter dado os exemplos mais eficazes, mas pessoas averentas fazem-me confusão.

o exemplo do casamento não funciona muito bem, porque eu percebo quem não queria ir porque não tem dinheiro, mas se os noivos convidam, não é a pensar na prenda que vão receber, é porque querem a presença das pessoas lá. se fosse comigo, eu obviamente diria que não era preciso dar nenhuma prenda para ter entrada no casamento.

em relação ao SNS, posso ter tido azar nas vezes que lá fui, mas a má impressão ficou, de facto, e espero nunca mais de ter de recorrer a isso, ou se tiver, que corra melhor da próxima vez. abençoados sejam os sistemas privados de saúde e os seguros.

Maat disse...

@Statans: isso é o que todos deviam fazer. se não há dinheiro para luxos, não se gasta. é preferível guardar algum de lado, como é óbvio, para uma situação de emergência. no teu caso, é prioritário, uma vez que dizes que não tens subsídio de desemprego. mas pensa positivo, há quem nem trabalho precário tenha...

Anónimo disse...

Concordo com a Maat e percebi perfeitamente o que ela quer dizer! Tenho exemplos na minha família. Pessoas que até não estão mal financeiramente, mas para "não gastar porque pode fazer falta" nem a um oftomologista vão e optam pelos óculos de leitura do chinês (o que é completamente ridículo).
A Maat fala daquele tipo de pessoas que, e peço desculpa pela expressão, não comem, para não cagar, para pouparem no papel higiénico!!!não da típica pessoa que tem de poupar muito, porque infelizmente tem um salário baixo, e condições precárias e uma família para sustentar!
E em relação ao SNS....tem ela muita razão!...e é tudo!

M. Vieira

Espiral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Espiral disse...

Olá *

Em relação ao meu exemplo, não especifiquei, mas especifico agora que são pessoas que não tem problemas de dinheiro de especie alguma; obviamente que num casamento meu nenhum amigo deixaria de ir por isso; mas tem a ver com o comportamento deles "ah nós somos um casal, temos que dar menos porque custa mais" (quando ganham os dois muito bem...), era nesse sentido de explicar o que acho que é realmente ser mesquinho.

Não coloquei de forma alguma em causa que não tivesses noção de poupança, explicas bem isso no teu texto; apenas disse que se sente mais essa percepção de "ah não sei como ele não vai jantar fora para não gastar" em pessoas que nunca tiveram dificuldades financeiras;

Em relação ao SNS metade dos médicos e enfermeitos que conheço que trabalham no privado recorrem ao SNS em caso de casos complicados (é onde estão efectivamente os melhores médicos, cirurgicos por exemplo, e em casos como referiste de certos tratamentos de cancro, são carissimos, o segura nunca cobre, é o sistema nacional de saude que cobre e bem; assim como a medicação para o hiv que é 80 e tal ou 90 e tal por cento comparticipado pelo estado.... os seguros davam-te dar uma voltinha...)

Beijo!

Maat disse...

@Espiral: ok, no exemplo do casamento percebo agora o que querias dizer e acho que tens toda a razão, isso sim é ser mesquinho, não dar mais não porque não se pode, mas porque não se quer, inventando uma desculpa qualquer para fechar os cordões à bolsa.

a parte do se notar mais esta atitude em pessoas que nunca sentiram dificuldades, não sei... nunca reparei muito se os outros sentem isto também, é simplesmente uma coisa que eu acho e por acaso nunca tinha verbalizado, a não aqui no blog. mas acredito que seja verdade.

em relação ao SNS, também sei que sim, os melhores médicos estão no público, só que como têm listas de espera de meses, é sempre bom poder ir ao privado e arranjar consulta para a semana que vem. infelizmente tenho recorrido bastante a médicos nos últimos tempos, de diferentes especialidades, e ter seguro permitiu-me conseguir consultas com bons profissionais, alguns deles chefes de serviço em hospitais públicos em pouquíssimo tempo, a um custo acessível, coisa que no público, apesar de grátis ou perto disso, seria impossível. antes disso, bem eu definhava.
os seguros não cobrem tudo, claro, dependendo do tipo de apólice também, e para fugirem com o rabo à seringa são os primeiros, e por isso é que eu acho que devemos ter umas poupanças para o caso de, por exemplo, teres de ser operada e o seguro não cobrir, poderes fazê-lo no privado imediatamente, sem esperar meses pela operação no público.
acredito na qualidade do SNS, em termos de profissionais, mas não na sua plena eficácia e funcionamento. é verdade que as pessoas não morrem por falta de cuidados vitais, mas vão morrendo...

acho que o/a M. Vieira percebeu perfeitamente o tipo de pessoa que eu tentei descrever. é exactamente isso. pessoas que não comem para não cagar. não diria melhor.

Anónimo disse...

Essa mesquinhez faz-me lembrar um ex-colega. Quando as refeições eram para debitar ao cliente, era tudo à fartazana: sobremesas, entradas, pratos da carta, etc. Quando nao era para debitar ao cliente, era prato do dia, mais um copo de água... e nao estamos a falar de coitadinhos, mas de pessoas ja com um nivel de rendimentos acima da media.

Anónimo disse...

Isso sim irrita-me e nao é pouco...
(PS: sou o anonimo das 17:44)

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